28.2.09

EU TINHA AVISADO...

Sim, avisei que gostava de claustros. A propósito um amigo disse-me há tempos que isso era misticismo mal resolvido.
Misticismo?!...
Gosto daqueles espaços pelo equilíbrio formal, a articulação perfeita entre luz e sombra, o jogo das linhas arquitectónicas, o intimismo, a tensão entre o centro do quadrado - onde há quase sempre um tanque - e a dispersão para fora, através das portas.

Numa ida recente a Coimbra revisitei o Claustro da Sé Velha: o austero recolhimento do românico. Belíssimo!






Depois, Santa Clara-a-Nova, tão mal divulgado: a beleza hieráctica das linhas, já não a Renascença , ainda não o Barroco.



As pessoas vão a Santa Clara só para ver ( e à distância! ) o túmulo de prata da Rainha Santa Isabel. Mas o primitivo túmulo, belíssima peça do gótico, está escondido no coro da clausura...
As telas da Capela-Mor mal iluminadas...
Pergunta-se pelo claustro. "Olhe que tem de pagar 1,5 €..." - disse-me o guarda, quase a desaconselhar a extravagância...
Lá dentro, adereços de jardinagem por arrumar, caixotes de madeira encostados às imponentes colunas, a servirem de vasos para plantas, sacos de adubo no vão de uma janela...



Uma excursão de espanhóis passou pelo Convento como se estivesse a visitar uma estação de metro... Cinco minutos no meio da Igreja a ouvir a guia e... ala que já é tarde!
Temos tão pouco jeito para cuidar do melhor que temos...





Fotos (C) Méon

23.2.09

SERENIDADE...DOÇURA... PAZ...

Venha comigo.
Estamos no Jardim da Graça, centro de Torres Vedras. Basta passar uma porta do antigo Convento, percorrer um curto corredor e encontramos o claustro setecentista. Sentemo-nos um pouco. A tarde vai desvanecendo a luz...
Desculpe, gosto muito de claustros...







20.2.09

AFINAL...TUDO COMO DANTES !

Acabo de ler AQUI: a Prcuradora do Ministério Público recuou na decisão de ontem.
Que pensar disto?
Todas as pessoas se podem enganar e só lhes fica bem emendar a mão. Mas tendo em conta o descrédito em que está a Justiça, este engano teve uma repercussão tremenda e vai deixar marcas. O cidadão tem direito a desconfiar cada vez mais, face a enganos como este. Imaturidade dos agentes da justiça? Pressa em mostrar serviço? Distância e displicência face ao mundo real?

Para saber mais sobre o CARNAVAL DE TORRES VEDRAS, ver:

www.carnavaldetorres.com

19.2.09

CENSURA OUTRA VEZ?

O écran do "crime"... (Foto de Paulo Pinto)



O PÚBLICO on line (clicar) acaba de anunciar o ressurgimento da censura: um boneco no Carnaval de Torres Vedras foi censurado por ordem do Delegado do Ministério Público de Torres Vedras.
O EXPRESSO, no entanto, é mais completo. Ver AQUI.

Trata-se de um acto de CENSURA, apesar de aparentemente legal. (No tempo de Salazar também era tudo legal...)
Perante a inoperância do MP em processos tão importantes e urgentes, esta "eficácia" em Torres Vedras até dá vontade de rir.
A comissão organizadora do "Carnaval mais português" deve agradecer penhoradamente ao MP esta ajuda publicitária.
Mais uma vez se comprova que "todos os censores são estúpidos"!









TENHO DIREITO A ESTAR FARTO, NÃO ??!!


Farto com a conversa dos homossexuais!

Eh pá! Vamos lá a ver se nos entendemos: eu respeito toda a gente, desde as velhinhas que se atarantam nas filas e fazem esperar quem está atrás, até aos automobilistas azelhas que ajudam a entupir o trânsito. Respeito a malta com pinchavelhos espetados na boca e nas sobrancelhas até aos portugas que fazem do futebol o assunto mais importante da vida deles. Gosto de viver e deixar viver, respeitando quem é diferente.

Mas quando os "diferentes" querem a todo o custo que eu os ache "iguais", e sobretudo me agridem com a sua diferença, insinuando - ou acusando! - que eu não os ache iguais... aí, tenham lá paciência! Exijo que me respeitem também!


Por isso começo a estar farto! Exigindo o casamento - quando este é uma opção jurídica cada vez mais esvaziada - pensam que mudam as mentalidades das pessoas que os não aceitam ou não respeitam. O que é uma ilusão pateta.


Vivam as vossas vidas! Dêem as mãos em público com quem quiserem. Mas por favor, não me chateiem com o vosso exibicionismo, a vossa vitimização que pretende acusar-me de agressor, os vossos complexos transformados em arrogância democrática!

Com tudo isso só me fazem ficar ainda mais farto!

E como eu, há muita gente a sentir o mesmo!

Como a Fátima Campos Ferreira não me convidou... aqui fica o desabafo!

15.2.09

SAPIENS: uma nova revista


Chama-se SAPIENS. Tem coisas diferentes. Interessantes para quem gosta de investigação da História, de Património e Arqueologia.


Na página de apresentação diz-se:
A revista Sapiens. História, Património e Arqueologia é uma publicação exclusivamente electrónica, de acesso gratuito, que tem como principais objectivos a divulgação do conhecimento histórico e arqueológico, a partir de trabalhos académicos realizados no âmbito de mestrados e doutoramentos.

A Sapiens pretende constituir-se como um espaço de divulgação para autores e trabalhos cujas dificuldades de publicação impedem o seu conhecimento mais generalizado.

14.2.09

OLH ' Ó BARRETE !


Revista de Carnaval, editada anualmente pela Associação para a Defesa e Divulgação do Património Cultural de Torres Vedras e Espeleo Clube de Torres Vedras. Este é o número 13!


Revista de humor, escárnio e mal-dizer.

Brincadeira de um grupo de gente que teima em rir, apesar de tudo...







O traço inconfundível de dois grandes artistas do lápis: o Zé Pedro Sobreiro e o Antero Valério...

...e também do Jorge Delmar!


Custa só 2,00 barretes e as associações não agradecem. Porque quem fica a ganhar é quem lê ! - quem a fez teve um trabalhão do catano, desde ainda antes do Natal!... Pôôôças!!!!...

10.2.09

JOVEM LUTADORA


Há pouco tocaram à porta. Abri. Uma jovem, carregada com pastas e papéis, disse ao que vinha: inquérito porta-a-porta, controlo de água...
O ar dela despertou-me a intuição de que merecia urgentemente uma palavra de estímulo. Porque de repente era eu quem ali estava, podia ser eu...
Convidei-a para entrar. Em poucos minutos fiquei a saber quem era: uma lutadora, uma jovem com vinte anos e três empregos em part-time, a provar que podia sobreviver pelo seu trabalho. O curso técnico-profissional de gestão e informática? Pode ser que venha a servir. Por enquanto vende produtos de cosmética, vende baguettes num centro comercial e faz porta-a-porta para uma empresa de publicidade.
Entrou porque - disse - achou que eu era boa pessoa.

Quero agradecer-te. Porque em poucas palavras mostraste como há jovens que saem da imagem preconceituosa que os mais velhos têm deles - pecado que eu também cometo... Fizeste-me voltar ao tempo em que, para ajudar a pagar os meus estudos... vendi cursos por correspondência e fotografias, porta-a-porta, em Lisboa e na Amadora, com uma pasta que pesava mais de cinco quilos - e ao fim do dia pesava vinte!
Lembraste-me os muitos jovens do meu país que querem trabalhar e não têm onde, enquanto muitos adultos esbanjam dinheiro em bens supérfluos.
És uma lutadora! A vida será tua porque não te rendes, acreditas em ti, tens coragem.
Obrigado, Marlene!
(Pintura de Elisabete Henriques )

ODORES E PALADARES



Bela viagem pelos sabores e odores dos campos do Ribatejo. O meu amigo Cid Simões ofereceu-me o livro, num convite a viver o que para ele foi inspiração: passear no campo logo pela manhã, porque "de olhos no chão e espírito liberto, encontrará a tranquilidade que dizem existir no céu."
E logo a seguir garante-me:
"Saudavelmente cansado, uma frugal refeição de chícharos ou cardos, de ineixas ou misturadas, ou ainda o suculento torricado ribatejano, dar-lhe-á alento para continuar a jornada".
E termina:
"Viva a realidade sonhada!"
Viva! - repito eu, encantado com estas receitas rústicas, simples, que já tinha ouvido ao meu pai quando ele me contava a vida do trabalhador rural - que ele foi: a necessidade de "caldeirar" em pouco mais de uma hora o parco jantar que tinha de ser sustento para a tarde toda e só encontrava reforço na ceia, já de noite, à luz da candeia ...
Um dia destes deixo aqui algumas dessas receitas...
Obrigado, Amigo!

7.2.09

SABEDORIA



Baltazar Gracián: filósofo, séc. XVII.




CONHECE-TE A TI MESMO


«Os antigos escreveram-no para sempre em letras de ouro nas muralhas de Delfos e em letras de apreço na alma dos sábios:"Conhece-te a ti mesmo!" De todas as criaturas vivas só o homem erra quanto ao seu fim, só ele pode tropeçar, desviado pela própria nobreza da sua livre vontade. E a pessoa que começa por não se conhecer a si mesma nunca conhecerá bem coisa alguma. De que serve a sabedoria se não formos sábios para nós mesmos? Degeneramos em escravos dos nossos escravos tão frequentemente como nos submetemos ao vício. Nenhum ladrão, nenhuma esfinge, assalta o viajante, assalta os vivos, como a ignorância de si mesmo. A ignorância condenada à estupidez, quando não sabe não sabe e não repara na sua falta de atenção!»


Baltazar Gracián

3.2.09

CRISE? ONDE ESTÁ A SURPRESA?

Disse Obama há dias, referindo-se à ajuda que o Estado deu aos bancos para não entrarem em falência: «Os executivos dos grandes bancos repartiram entre si 14 250 milhões do plano da crise. Uma irresponsabilidade e uma vergonha». Referia-se aos prémios dados a gestores e que foram empregues na compra de casas de luxo, aviões particulares, etc.
Cá em Portugal a coisa vai pela mesma bitola. Hoje o PÚBLICO noticiava que o BPN já tinha engolido o equivalente a meio aeroporto da Alcochete.


O curioso é que toda a gente fala da grande surpresa que é esta crise mundial."Ninguém esperava!!!" - dizem todos. Atribuem-na a uma entidade mítica ( a auto-regulação dos mercados que falhou, por motivos que ninguém percebe! ). Os economistas, que ganham tanto dinheiro a dar opiniões teóricas, andam caladinhos, para não fazerem mais figuras tristes. Afinal não sabem nada!

Mas tudo isto era previsível. Eu que não sou economista e pouco percebo destas coisas, tenho vários livros que já alertavam, há muitos anos, para a insustentabilidade deste modelo económico.

Um grande pensador francês, Roger Garaudy, escreveu "APELO AOS VIVOS" em 1979 ( Ed. portuguesa da Moraes, em 1982), em que o primeiro capítulo se intitulava «Um mundo no atoleiro» e o primeiro sub-capítulo era «Um modelo de crescimento que torna o statu quo não vivível e a revolução impossível». Logo na primeira página escrevia:
"Se continuarmos a viver os próximos trinta anos como vivemos os últimos trinta, vamos a caminho de assassinar os nossos netos".
Nem mais!


Em 1996 dois jornalista alemães escreveram um livro ( Ed. portuguesa: "A armadilha da globalização - o assalto à democracia e ao bem-estar social" ) que denuncia o que eles apelidam de "turbocapitalismo", o domínio da economia pelas engenharias financeiras e a instauração de um neoliberalismo que tinha como principal consequência a desestabilização dos Estados e a destruição dos mecanismos de ajuda social onde estes existiam. Isto é: "menos Estado" e "mais lucros privados". Numa espiral que só podia dar no que deu.

No livro "O novo estado do mundo", publicado em França em 1999 e em Portugal um ano depois, já se previa o que hoje vivemos. Por exemplo:
"Quanto mais importantes são os capitais acumulados pelas organizações criminosas, mais elas podem dissimular-se em recantos escusos criados pela desregulamentação económica e financeira. É mais fácil branquear um milhão de dólares do que 20 000 porque não existem controlos nos mercados financeiros. (...) Quanto mais vastas e organizadas são as actividades criminosas, mais insuspeita deve ser a sua fachada legal. A fusão entre a economia global e a economia criminosa perece, portanto, hoje cumprida." ( pág 138).


Maria José Morgado há anos que vem clamando: é urgente que as polícias sejam dotadas de meios humanos com formação específica para fazer face ao crime financeiro, o mais grave de todos porque atira milhares/milhões para o desemprego, a fome, a miséria.
Oliveira e Costa é apenas uma face visível do imenso sub-mundo das manobras financeiras criminosas, denunciadas em livros como "Revelações sobre o mundo financeiro", Edit. Inquérito, 2001 ( no mesmo ano em que foi editado em Paris).

O Prémio Nobel de Economia 1998, o indiano Amartya Sen, professor na Universidade de Oxford), há muitos anos que denuncia as graves desigualdades mundiais com estudos magistrais de que é exemplo o já clássico "Pobreza e fomes - um ensaio sobre direitos e privações", ed. Terramar, 1999 ( o original é de 1981!)

Não esqueçamos que na Madeira funciona há anos uma off-schore, um mecanismo "legal" para dar cobertura a tais manobras.

Agora só ouvimos falar em "surpresa!". Mais uma descarada mentira! Como é possível que em poucos meses aquilo que era uma economia florescente se transforme numa enorme hecatombe ? Como é possível que de um momento para o outro milhões de pessoas fiquem sem emprego?

A grande razão desta crise parece a mesma que levava os monarcas medievais a cunharem mais moeda: o dinheiro deixou de ter valor para os grandes financeiros porque se tornou numa realidade virtual, não corresponde a riqueza real. Os monarcas medievais mandavam arrecadar as moedas circulantes para lhes fazerem um buraco no meio e assim arranjarem mais metal para cunharem novas moedas. O povo ficava temporariamente sem dinheiro? Tivessem santa paciência.... Os tecnocratas financeiros de hoje provocam o crash para voltarem a poder especular, continuando a ganhar fortunas em golpes de bolsa e transferências fantásticas. No espaço de tempo intermédio esperam que os Estados distribuam uns patacos aos desgraçados de sempre...
Não admira que alguns dos nossos "tubarões" financeiros já tenham dito publicamente: os tempos de crise trazem grandes oportunidades de negócio!



Em resumo: uma coisa são os Estados e Administrações públicas nacionais; outra são as grandes entidades financeiras, multinacionais. Com lógicas antagónicas. As últimas manobram no sentido de canalizar somas fabulosas para bolsos privados de uma elite mundial; as primeiras gerem os descontentamentos sociais, vampirizando as classes médias que não podem fugir ao fisco.
As primeiras baralham para dar de novo: é a fase em que estamos. Aos Estados pede-se que acorram como bombeiros, "ajudando" os pobrezinhos ricos que tiveram o enorme prejuízo de só ganharem dez milhões quando era suposto terem lucros de cem!


Como sair disto? Pierre Bourdieu disse em 1995, (citado pelo livro "A armadilha da globalização", pág 241):
«Só podemos combater eficazmente a tecnocracia internacional se a desafiarmos no seu terreno de eleição, o das ciências económicas, e se opusermos ao pensamento mutilado a que ela recorre um saber que respeite mais as pessoas e as realidades que elas enfrentam.»